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Notícia

UM NOVO AUTOR E UM VELHO TEMA
20/01/2011 00:10:40


M. Paulo Nunes

 O “boom” editorial que ocupou a literatura de ficção nos países de língua espanhola de nossa América, a do sul, vindo a constituir uma nova história do romance, geralmente conhecido pelo rótulo de “realismo mágico”, demarca um momento solar dessa literatura, no século passado.Nele se englobam autores às vezes díspares, e tem início com El Señor Presidente do guatemalteco Miguel Angel Astúrias. Dele fazem parte autores hoje considerados ícones dessa literatura, como Gabriel Garcia Marques com seus dois monumentos hoje clássicos, Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos do Cólera; Mário Vargas Llosa, sobre quem tenho escrito largamente por motivo de conhecer-lhe toda a obra, da qual de destaca Conversación em la Catedral; Júlio Cortazar, com Os Prêmios  e O jogo da Amarelina e, “last but not least”, Jorge Luís Borges com as suas admiráveis histórias de Ficciones, El Aleph e Dossiê Odessa e sobre quem igualmente tenho escrito alguns breves ensaios em nossa imprensa.

Há pouco, no caderno Ilustrada, da Folha de São Paulo (08.07.06), deparo-me com uma surpreendente entrevista de um novo romancista colombiano, Santiago Gamboa, a propósito do lançamento de seu novo livro, A Síndrome de Ulisses, recentemente editado em nosso país pela Editora Planeta e que ainda não conheço. 

Josué Montello, cujo desaparecimento recente muito me sensibilizou,  costumava dizer em sua prosa diarística, que venho relendo com o maior interesse, pois pretendo publicar, sobre ele um estudo de maior densidade, que muito pouco o seduziam as novas experiências literárias, preferindo o retorno freqüente aos seus velhos clássicos. Esta volta aos clássicos constitui um bom exercício literário e sempre adoto, na medida do possível, principalmente quando temos esses clássicos, como Camões, Machado de Assis ou Eça de Queiroz, entranhados na alma, mas admitia também o celebrado autor de Os Tambores de São Luis, não podermos, vez por outro, deixar de dar uma visada nos autores que estejam criando novas formas de expressão na novelística contemporânea. O autor se considera um emigrante pelo fato de viver longe da pátria, morando em Paris, e emigrantes são também seus personagens. Cursou ele literatura, ao deixar Bogotá, na Universidade de Madri e depois foi para a França com o mesmo propósito de estudar especialmente a literatura sul-americano, ou seja, a dos países hispânicas.

A entrevista citada contém tópicos interessantes porque se relaciona com o cerne da criação literária, como pessoalmente a entendemos.   

A uma pergunta do entrevistador se há muito de autobiográfico naquele livro, retruca ele ter usado “alguns episódios e experiências” da sua vida, “mas quando se entra no território do romance, tudo vira fictício.” E acrescenta:”O literário é o reino daquilo que poderia ter sido e esse reino está longe da vida real.”

A uma outra indagação sobre autores e livros mencionados naquela obra, responde que “Uma das funções da literatura é dar notícia de outros mundos, sejam estes geográficos, culturais ou especificamente literários. “A literatura, conclui, é uma leitura possível da vida e eu gosto dos livros que levam a outros livros e que, por sua vez, nos unem a uma corrente ainda maior porque qualquer livro que aspira a ser uma obra de arte está necessariamente em diálogo com outros.” (Op.cit., p. E-3)

Como não é outra senão esta a função do romance como expressão maior e  diríamos homérica, ou seja, épica, da vida contemporânea, nada melhor para caracteriza-lo, sem esquecermos, é claro aquela definição de Nabuco, em Minha Formação, de que “O romance é a imaginação abrangendo e modelando a vida”.

Não há assim como fugir a esse objetivo maior, sejam quais foram as técnicas de sua construção literária, quer se trate da narrativa tradicional ou do “nouveau roman”. Acho que em estudos anteriores já delineamos essa função, ao estudarmos a teoria do romance.

Vamos assim ler este autor, um “jovem de 40 anos (o “jovem” fica por conta de quem tem já o dobro de sua idade) e na palavra do entrevistador, integra uma geração de novos escritores do continente que, embora com divisões internas se opõem ao chamado “realismo mágico” de que acima falamos. Nada mais sedutor para o crítico,embora amador,como no nosso caso, do que uma nova descoberta literária, a esta altura da vida

 

 

 

 

 

 

 

 

 




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