M. Paulo Nunes
Em 1936, Sérgio
Buarque de Holanda publicava um dos livros mais significativos de nossa
cultura, Raízes do Brasil que de certa forma viria revolucionar o
processo de análise e interpretação da história do Brasil. É um livro de
caráter Weberiano”, ou seja, na mesma linha do sociólogo alemão Max Weber que
dominaria por largo tempo a sociologia paulista,muito em voga entre os
pensadores que se afirmaria no país, como expressão da recém-criada
Universidade de São Paulo, em 1934.
Gilberto Freyre já
havia publicado em 1933 o seu livro seminal Casa Grande & Senzala
que, não obstante ser tido como conservador, em algumas áreas de nossa
“intelligentzia”, daria uma nova interpretação à formação da sociedade
brasileira sob a influência dominante da família patriarcal, com ênfase no
intercurso social e sexual entre as três raças ou culturas de que resultaria a
nossa sociedade. Foi também este um livro renovador.
Na mesma data
aparece também o livro, este, de fato revolucionário, de Caio Prado Jr., Evolução
Política do Brasil, ensaio de interpretação dialética da história do
Brasil, a que se seguiria, em 1942, ao retornar do exílio, em razão de sua
militância política de esquerda, o livro História Econômica do Brasil.
Essas obras, no
entanto, que muitos estudiosos dão como marcos renovadores do pensamento social
do país, não surgem assim, sponte sua, como responsáveis, em larga
escala, pelo estudo aprofundado da renovação do pensamento social do país.
Antes do aparecimento desses autores, muitos outros já se preocuparam com a
elaboração de um pensamento crítico de nossa sociedade, até hoje uma sociedade
desigual e injusta. E assim é que essa preocupação surge muito antes, com
Euclides da Cunha que, com Os Sertões, aparecida em 1902, delimita uma
nova fase, em nossa evolução histórica, com a vigorosa denúncia que ali se
contém, da injustiça social do país. Muito antes dela Joaquim Nabuco já o havia
feito com O Abolicionismo, em 1883, livro como qual, ao condenar a
escravidão, estabelece ainda as bases de um programa de absorção do negro ou
afro-descendentes como hoje pomposamente denominavam, como se mudando o nome
mudasse também a consciência do problema.Tal programa de Nabuco, se observado à
época, teria abreviado a lenta passagem de uma sociedade de senhores e escravos
a uma outra inteiramente livre. Também o fizeram outros, como Manoel Bonfim,
com América Latina – os Males de Origem (1917), Oliveira
Viana com Populações Meridionais do Brasil (1920) e Evolução do Povo
Brasileiro (1924) e tantos outros que se seguiram, como os pensadores e
estudiosos do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) criado no
governo Juscelino Kubstsck, dos quais destacaria as figuras de Albano Vieira
Pinto e Darcy Ribeiro, entre outros.
Tudo isto para
significar que a nossa cultura, uma das mais originais do planeta, tem
constituído ao longo dos anos, a preocupação dominante de estudiosos e
pensadores que à maneira do autor celebrado de Raízes do Brasil, que
agora completa 70 anos de publicação e de outros estudos sobre a nossa
realidade, como Visão do Paraíso (1959), no sentido de repensar o
nosso país para assim poder-se construir um futuro de paz e felicidade para
todos e não apenas para uns poucos privilegiados. Assim seja!