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Notícia

MEMORIAL DE UM VELHO AMIGO
20/01/2011 00:10:34


M. Paulo Nunes

Minha convivência com Pedro Portela data de mais de meio século, ou seja, precisamente do ano de l938, quando a nossa capital era ainda uma cidade provinciana, de cerca de 50.000 habitantes, onde se conservavam os hábitos familiares, como sentar-se à porta da rua para as conversas da boca da noite, enquanto se aguardava a vinda do “parnaibano”, a viração que sopra do litoral, a partir de nove horas da noite.

No velho Colégio Diocesano, então chamado “São Francisco de Sales”, iniciamos nossos estudos secundários e depois nos dispersamos, ele para iniciar-se, cedo, na atividade comercial, junto com seu pai, Cícero Portela, que viera do interior, com a família, para aqui dedicar-se aos seus negócios e possibilitar uma melhor educação para os filhos, porquanto a nossa capital, juntamente com Parnaíba, cujo comércio era voltado para a exportação dos nossos produtos, centralizava praticamente os estudos secundários ou pós-primários no Estado. Pedro passaria a preparar-se para a sua atividade profissional, em nossa Academia de Comércio, onde fez curso de Contabilidade, com validade de curso superior, dado que não existia então a profissão de contador, neste nível. Enquanto isto, iniciava-se ele com negócio próprio, ao fazer 18 anos de idade e mediante obtenção da maioridade legal, com a emancipação judicial para poder exercer uma profissão. O mesmo ocorreria com o autor destas linhas também, quando de seu ingresso no magistério secundário, outra afinidade que tivemos na vida: a de começar a trabalhar muito cedo, coisa que praticamente não mais acontece nos dias atuais.

Como comerciante e empresário, foi ele um ativo homem de negócios, muito cedo consolidando um sólido patrimônio pessoal, inclusive, com a posse de imóveis na capital e várias propriedades no interior do Estado, tornando-se em pouco tempo um homem de negócios moderno e de visão prospectiva. Tornar-se-ia, ao longo dessa profícua atividade, um líder de sua classe, dirigindo, por longos anos, juntamente com José Elias Tajra, seu amigo, e outro líder empresarial, a nossa já centenária Associação Comercial, em cuja direção ainda se encontra e à qual tem prestado os mais relevantes serviços.

Ao fundar-se o “Lions Clube” de Teresina, entidade que passou a congregar os líderes profissionais do Estado, tornou-se ele figura de proa daquele movimento, ocupando os mais destacados postos de direção, inclusive, por duas vezes, o de governador do Distrito.

Foi uma experiência interessante esta, não somente pelos valiosos serviços prestados à nossa comunidade teresinense e piauiense,como ainda pela possibilidade de ampliação de seus inúmeros e significativos contactos em nível nacional e internacional, tornando-se um verdadeiro “glober-troter”, pela quantidade de países e de diferentes culturas pelos quais pôde transitar, não apenas conhecendo seus dirigentes, líderes empresariais e pessoas representativas dos diferentes setores de sua vida social e política, como ainda com suas ilustrativas visitas a museus, como o Louvre, em Paris, a Capela Sixtina e a Basílica de São Pedro, em Roma, e inúmeros outros pontos de atração turística que pôde visitar. É ele também, neste particular, um homem de seu tempo, plenamente realizado.      

Embora de forma breve, para não nos alongar tanto, quero destacar sua atuação política no Estado, em que exerceu os mais diferentes postos, como  o de 1º Vice-presidente de nossa Assembléia Legislativa e, eventualmente, em várias oportunidades o de seu presidente, como deputado estadual, eleito em várias legislaturas. Nasceu de inspiração e projeto seu a Secretaria de Indústria e Comércio do Estado, no governo Alberto Silva, de que foi o primeiro titular, e a que deu dimensão das mais expressivas na administração pública. Exerceu a liderança do governo nas gestões dos governadores Petrônio Portella e Alberto Silva, postos nos quais se houve com a maior competência e espírito público.

Por último e talvez coubesse ao assunto o primeiro lugar, desejo dar especial destaque, nesta nota breve, à sua modelar vida de família, tão realçada nestas suas lembranças, salientando a presença e mais do que a presença o estímulo constante de D. Lourdes, em sua realização pessoal, como partícipe na educação de uma família profundamente ajustada que hoje se estende por filhos e netos e são esses últimos a imagem perfeita daqueles amanhãs que cantam, de que fala o poeta. Durante 50 anos de vida em comum, D. Lourdes tem sido a companheira perfeita e o esteio permanente da vida plenamente realizada de Pedro Portela.

Vou concluir fazendo uma citação, que me parece bem adequada à ocasião, do filósofo italiano Norberto Bobbio, que faleceu recentemente, perto dos 90 anos e é figura de realce da cultura contemporânea. Diz-nos ele, justamente em seu livro de memórias, O Tempo da Memória, que constitui a nota dominante deste livrinho de evocação e lembranças de uma vida plenamente realizada, que é a do meu amigo Pedro Portela, de quem ouço, constantemente, oportunas reflexões de um espírito afeito às duras lições da vida:

“O mundo dos velhos, de todos os velhos, é, de modo mais ou menos intenso, o mundo da memória. Dizemos: afinal, somos aquilo que pensamos, amamos, realizamos. E eu acrescentaria: somos aquilo que lembramos. Além dos afetos que alimentamos, a nossa riqueza são os pensamentos que pensamos, as ações que cumprimos, as lembranças que conservamos e não deixamos apagar e das quais somos o único guardião. Que nos seja permitido viver enquanto as lembranças não nos abandonarem e enquanto, de nossa parte, pudermos nos entregar a elas.” (Ob. cit., p. 30)

Acho que foi pensando conservar essas lembranças queridas, as melhores de sua vida, e de certa forma dar perenidade a esta tão enriquecedora experiência existencial que Pedro Portela quis deixá-las gravadas no papel para que elas não desaparecessem de todo e pudessem servir de inspiração a todos quantos participamos dessa aventura, no atormentado planeta em que vivemos.

De nossa parte, associamos-nos, seus amigos e admiradores, ao júbilo de seus familiares por continuar a tê-lo sempre entre nós como uma das melhores referências do nosso afeto e da nossa admiração. 




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