M.
Paulo Nunes
Há 70 anos passados,
ao ser deflagrada a Guerra Civil Espanhola, com o levante encabeçado nas
Canárias, pelo general Francisco Franco, ao cair em mãos de seus sicários, na
mesma cidade natal de Granada, onde nascera, o grande poeta espanhol Federico
Garcia Lorca, tomava o mundo conhecimento de uma tragédia que o deixou
estarrecido, o bárbaro assassinato de uma das vozes maiores da poesia e da
dramaturgia espanhola.
Transposto
ao continente, o movimento fascista, que seguiria o modelo adotado pelos
ditadores Benito Mussolini, na Itália, Oliveira Salazar, em Portugal, e
sobretudo Adolf Hitler, na Alemanha nazista, o poeta se encontrava em Madri e, embora desaconselhado pelos amigos,dirigiu-se
a Granada para visitar os pais, em Fuente Vaquero, nos arredores daquela
cidade, onde eclodira com extrema ferocidade aquela rebelião.
Em virtude das ameaças constantes, por ele e por sua
família recebidas, foi o poeta acolhido a seu pedido em casa dos familiares do
poeta Luís Rosales, cujos irmãos, Antônio e José, eram partícipes de
insurreição.
Naquela cidade, o governo da Frente Popular obtivera
retumbante vitória contra a direita, em seqüência à anterior eleição em que
esta fora vitoriosa, anulada pela Cortes de Madri, sob a alegação de fraude.
Deflagrado ali o movimento, militares e falangistas tomaram
o poder em Granada e desencadearam a mais terrível repressão, de que já fora
vítima o cunhado do poeta, Manuel Fernandez Montesinos, recém eleito alcaide
republicano,preso e posteriormente fuzilado. Assim, nem o asilo em casa dos
Rosales e a despeito dos generosos empenhos destes, nada evitaria que ele
caísse nas mãos do comandante José Valdés Guszmán. Um de seus biógrafos, Yan
Gibson (Federico Garcia Lorca – uma biografia – Editora Globo, São
Paulo, 1972) afirma ter aquele chefe militar franquista agido sob a orientação
direta do implacável general Queipo de Llano, que detinha o poder em Sevilha, e
teria decidido o destino final do poeta.
Baldados todos os esforços dispendidos, não apenas dos
Rosales, do grande compositor granadino Manuel de Falla, mas de toda a
comunidade internacional para salvar o grande lírico do Romancero Gitano,
foi este sumariamente fuzilado, ao que tudo indica, na madrugada de 18 de
agosto de 1936, juntamente com dois toureiros desconhecidos e um professor
primário de Valadolid, chamado Dióscuro Galindo González,na localidade de
Viznar, junto a um lugar, premonitoriamente denominado “fonte das lágrimas”.
O mundo ficou estarrecido ao tomar conhecimento daquele
crime hediondo.
A indignação popular foi traduzida, ao presenciar a saída
do poeta, algemado, do edifício do Governo Civil, cercado de guardas e
falangistas do “Esquadrão Negro”, encarregado das execuções sumárias, por uma
testemunha ocular, um jovem amigo de Lorca, Ricardo Rodriguez Jimenez que
gritou para os matadores do poeta: “Assassinos! Vocês vão matar um gênio! Um
gênio! Assassinos!”
A indignação e o interesse internacional foram traduzidos
algum tempo depois por um telegrama de 13 de outubro daquele mesmo ano
fatídico, enviado às autoridades rebeldes de Granada pelo famoso escritor
inglês H. G. Wolls que dizia: ”H. G. Wells, presidente do PEN Clube de
Londres,deseja ansiosamente notícia de seu iluistre colega Federico Garcia
Lorca e agradeceria grandemente a cortesia de uma resposta. Esta, assinada
pelo coronel Antônio González Espinosa foi lacônica e deixou claro o destino do
poeta: “Do Governador de Granada para H. G. Wells: Não conheço o paradeiro
de Dom Federico Garcia Lorca”.
Assim findou a vida daquele que premonitoriamente cantou:
“o terror da morte, a fugacidade do amor, a inexorável passagem do tempo”.
Poetas e escritores de toda parte cantaram-lhe o infortúnio
e o poeta foi erigido em mártir da liberdade e da causa republicana, na
Espanha.
No
Brasil, mesmo sob a ditadura Vargas, os poetas Bandeira, Vinicius de Morais e
Carlos Drummond de Andrade cantaram-lhe a glória e o martírio em sentidas
endechas.