M. Paulo Nunes
No início da semana
passada, em Brasília faleceu, o Professor Itamar de Sousa Brito, uma das
figuras de maior relevo, em nossa história educacional. Na última sessão
ordinária da Academia, pedi a palavra para exaltar-lhe a personalidade de
educador e homem público dos maiores que já tivemos, embora haja por motivo
talvez de sua formação religiosa realizado o seu trabalho ou a missão que lhe
fora confiada e o seu meritório trabalho, longe das luzes ou do brilho dos
holofotes com que são agraciadas aquelas figuras que necessitam do aplauso dos
contemporâneos para poderem merecer-lhe a glória passageira que têm às vezes a
duração das rosas de Malherbe.
Disse naquela
ocasião breves palavras como preito de homenagem e admiração aquele velho
companheiro desaparecido, que são a seguir resumidas.
Itamar era natural
de Amarante, celeiro de grandes nomes de nossa inteligência, tendo, nesta
capital realizado sua formação intelectual, diplomando-se como os demais de
nossa geração, na velha Faculdade de Direito, que nunca me acostumei em ver
transformada em um simples departamento de nossa Universidade de que é, por
assim dizer, a sua alma máter, porquanto é a mais antiga escola de ensino
superior em nosso Estado.
Mas foi na área da
educação, pela qual, desde cedo, manifestou a sua preferência,que iria
complementar a sua vocação de estudioso e dedicado servidor público.
Realizou assim,
ainda durante o seu curso de direito, do qual se afastaria por um breve período
no INEP, Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos curso de especialização em
educação e planejamento educacional, o qual se complementaria com outro na
mesma área realizado na Escola de Educação da Universidade de Loyola, nos
Estados Unidos da América, além de haver naquele país participado de seminários
e debates sobre educação que enriqueceram sobretudo o seu currículo de
educador.
Foi aqui,
entretanto, em nossa terra, na velha, na velha Diretoria de Instrução Pública,
depois transformada, a partir de 1955,na
antiga Secretaria de Educação e Saúde,hoje Secretaria de Educação e Cultura
que, como técnico de Educação, realizaria o seu belo trabalho em favor do
Piauí, nesta área tão sensível e tão negligenciada em nosso país, que é a da
educação básica.
Como descrevê-lo
com precisão. Não serei eu a faze-lo neste breve registro. Acho que está na
hora de as novas gerações de professores ou de pedagogos para usar uma palavra
tão banalizada hoje e tão distante do seu conteúdo, para realçar o trabalho, a
dedicação e a competência dessa figura estelar da nossa educação e da nossa
cultura. Convivi com ele parte de nossas vidas e posso dar-lhes o meu
testemunho.
Além
de técnico, foi ele ainda professor titular ou catedrático como então se
denominava, de nossa Escola Normal, hoje Instituto de eEucação “Antonino
Freire, na qual ingressou mediante brilhante concurso para a cadeira de
História e Filosofia da Educação. A teses por ele defendida era “Educação e
Desenvolvimento”. Tive a honra de ser um de seus argüidores e dar a minha
ratificação à nota de distinção que mereceu ao final daquele concurso.
Escreveu dois
notáveis livros, História da Educação no Piauí de que estava concluindo
a 2ª edição, e Cem Anos da Missão Batista no Piauí, ambos da maior
importância para a cultura piauiense, e uma monografia sobre o Conselho
Estadual de Educação, do qual fui vice-presidente, de 1968 a 1971, quando tive
que deixá-lo com a minha mudança para Brasília. Dirigiu aquele colegiado, por
vários anos, o ilustre professor e amigo prezadíssimo José Gayoso Freitas, também
de saudosa memória.
Na Secretaria de
Educação era ele o responsável pela área de planejamento. Nunca chegaria ao
posto de Secretário. Entretanto aquela Secretaria está permeada pelo seu
trabalho, por sua dedicação, por sua competência.
Dentre as tarefas que
lhe foram incumbidas, destaca-se a que realizou na área de planejamento
educacional. Relembro aqui dois momentos culminantes.
Quando o governo
Petrônio Portella teve início ou talvez um pouco antes, fora ele designado pelo
titular da pasta para elaborar o projeto a ser desenvolvido com a parceria e o
financiamento da USAID, à conta dos recursos do famoso acordo MEC/USAID, tão
malsinado à época pelos estudantes. Acompanhei de perto seu esforço e seu alto
empenho no sentido de elaborar aquele documento em tempo recorde e com os
parcos elementos de que dispunha àquela época. Dele resultaram assinalados
benefícios ao Piauí, na expansão da escolaridade básica, naquele período, de
que careciam o estado e o país.
Igualmente, esteve
ele à testa da elaboração de todo o planejamento educacional do estado.
Inicialmente através do Plano Nacional de Emergência, criado por Darcy Ribeiro
ao assumir a pasta da Educação, no breve interregno de governo parlamentarista
que tivemos para solucionar o impasse criado pelas forças armadas à posse do
presidente renunciante.E logo após, ao elaborar os projetos do Plano Trienal de
Educação, em âmbito estadual, como aquele da maior importância para a nossa
educação básica,em nível estadual.
Além das qualidades
aqui apontadas decorrentes de um preparo intelectual e profissional dos mais
destacados, era Itamar Brito uma figura de escol, de convívio humano e fraterno
dos mais agradáveis, modesto, digno e simples, um modelo de personalidade de
que participara país a fora.
Tínhamos algumas
preferências em comum, como a admiração por figuras estelares de nossa vida
educacional ou cultural tais como Anísio Teixeira, de quem ele e eu, éramos
devotos como Fernando de Azevedo, como Lourenço Filho ou Almeida Jr., em suma
dos renovadores da educação em nosso país, signatários do manifesto dos
pioneiros da educação NOVA, em 1932, com que se deu impulso maior em nossa
renovação educacional.
Ao prestar-lhe aqui
a homenagem do meu afeto e da minha admiração a tão exemplar figura de cidadão
prestante, quero significar a falta que ele fará por certo a todos nós que o
conhecemos de perto, apontando às novas gerações o seu exemplo de dedicação à
causa pública.
Itamar deixa viúva
a Profª Haidê Soares da Silva Brito e os filhos Itamar Sousa Brito Jr., medito
e David Sérgio da Silva Brito, defensor público e advogado,residentes em
Brasília.