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HISTÓRIAS DE JOSUÉ MONTELLO – I
20/01/2011 00:10:22


M. Paulo Nunes

 Além das qualidades maiores de romancista, memorialista, crítico literário e ensaísta, Josué Montello foi de modo especial um grande contador de histórias. Histórias não romanescas como as de seus romances, mas a história de fatos recolhidos de sua convivência diária com personagens da vida literária. Essas histórias compõem o seu Anedotário da Academia Brasileira, em dois volumes e se espraiam ainda por outras publicações como a deste volume que acabo de reler, numa bem cuidada edição do antigo Instituto Nacional do Livro, em má hora extinto por um insano que passou como um furacão pela presidência de nosso país, e intitulado Uma Palavra Depois da Outra (1969).

Uma dessas histórias diz respeito ao famoso polemista Agripino Grielo, autor do Sol dos Mortos e Carcassas Gloriosas, com que inverteu contra os falsos valores de nossas letras, vergastando sem dó nem piedade as nulidades que pomposamente se aboletam nas instituições de cultura do país. Isto não impediu entretanto de escrever dois livros primorosos: São Francisco de Assis e a Poesia Cristã e uma biografia de Castro Alves, por quem era ele apaixonado e a quem considera um livro injusto sobre Machado de Assis a respeito de quem a maior coisa que diz é ser ele plagiário.

Evoca o autor de A Noite sobre Alcântara um de seus desencontros com Agripino, na sede da Embaixada de Portugal de Espada. Não se lembrou, ao que diz naquela nota das pilhérias com que o escritor teria alfinetado, ao longo da vida combativa, de esgrimista da palavra “a vaidade de muita gente ilustre que adora enfeitar-se com a placa e afitadas condecorações”.

Lembrou-se o romancista, isto sim, de uma outra noite festiva em que o rei espanhol D. Afonso XIII, o último Bonbon reinante antes da proclamação da república espanhola avô do atual rei Juan Carlos, após entregar, no Palácio Real de Madri, ao filósofo D. Miguel de Unamuno, e o colar de D. Afonso, ao ouvir do autor de Del Sentimiento Trágico de la Vida, estas palavras:

“- Agradeco a V. Majestade a condecoração que acabo de receber e a mereço.

E o rei, com estranheza:

- É curioso, Senhor Unamuno, todos aqueles a quem tenho agraciado dizem sempre que não merecem essa distinção real.

Ao que Unamuno replicou:

- E têm razão, Majestade.” (Ob. cit. pp. 135-6)

Conclui a narração daquele curioso incidente o nosso narrador.

“Ao empossar-se na Academia Francesa, aludiu Cocteau em seu discurso à espada que lhe pendia da cintura e terminou reconhecendo que os amigos há tinham oferecido para que, com ela, se defendesse contra si mesmo.

“Quem sabe se não foi essa também a intenção do Governo de Portugal  ao conferir a Agripino Grieco, com tanto acerto, a comenda de Santiago da Espada?” (Ob. cit. p. 138)




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