Inicial   O Conselho   Sessões   Publicações   Revistas   Fale Conosco
 

Notícia

HISTÓRIAS DE JOSUÉ MONTELLO – II
20/01/2011 00:10:21


M. Paulo Nunes

                   Uma história que reflete à perfeição o caráter dúbio de certas ações humanas também ocorre nas atitudes das pessoas mais sensíveis e foi este  o procedimento adotado pelo crítico e historiador José Veríssimo, um dos luminares de nossa história literária, em relação a Euclides da Cunha, como noticia Josué Montello, em seu livro já aqui citado, Uma Palavra depois da Outra, na crônica a que intitulou “José Veríssimo: Cara ou Coroa”.

O autor de Contrastes e Confrontos vinha de obter uma das maiores consagrações literárias com a publicação de seu livro monumental Os Sertões, em 1902, obra basilar da sociologia brasileira e de caráter seminal na interpretação do Brasil.

“Na esteira desse triunfo, diz-nos o autor de Os Tambores de São Luís, abriram-se para o seu autor as portas da Academia, e esta o saudou pela palavra de Sílvio Romero.” (Ob. cit. p. 45)

José Veríssimo, então o pontífice da crítica literária do país, saudou aquele escritor com um dos mais calorosos elogios que então se fizeram ao autor de À Margem da História de que pinça o romancista o seguinte parágrafo:

“O livro, por tantos títulos notável do Sr. Euclides da Cunha, é ao mesmo tempo o livro de um homem de ciência, um geógrafo, um etnógrafo; de um homem de pensamento, um filósofo, um sociólogo, um historiador; e de um homem de sentimento, um poeta, um romancista, um artista, que sabe ver e descrever, que vibra e sente tanto aos aspectos da natureza, como ao contato do homem, e estremece todo, tocado até o fundo d’alma, comovido até as lágrimas, em face da dor humana, venha ela das condições fatais do mundo físico, as secas que assolam os sertões do Norte Brasileiro, venha da estupidez ou maldade dos homens, como a Campanha de Canudos.”

Entretanto, esta parece ter sido apenas a atitude pública ou externa do autor de Estudos de Literatura Brasileira sobre o incomparável autor de Os Sertões.

Para Josué Montello, o verdadeiro juízo do crítico eminente, ele o teria deixado na carta dirigida a Mário de Alencar, de 17 de agosto de 1909, dois dias depois da morte trágica do épico de Os Sertões. 

Transcreve ele, a seguir, o trecho mais importante do precioso documento, àquela data ainda inédito, “para contraste e confronto com as palavras de seu artigo”. 

“Pobre Euclides! Apesar das aparências contrárias, creio que não havia entre nós muito real simpatia, e que ambos nos esforçamos por nos tolerarmos, e até nos amarmos, mais do que os nossos temperamentos e a nossa índole literária diversa quereria. Penso que este esforço recíproco deve ser contado em nosso favor e por isso não tenho nenhum vexame em confessá-lo a um amigo como você. - Com toda a sua ingenuidade e simpatia real, o seu matutismo inveterado e às vezes encantador, e algumas boas qualidades de caráter e creio também que de coração, havia nele um egotismo que me era insuportável e me fazia talvez julgá-lo às vezes com acrimônia ou injustiça. Pelo lado literário, você sabe que eu não podia absolutamente estimá-lo senão com muitas restrições, e, ainda admirando-o quanto podia, sempre achei excessiva a sua fortuna literária, que estou certo não lhe sobreviverá muito tempo.” (Ob. cit. p. 46)

Como admitir tamanhas restrições ao “lado literário” de Euclides ou “à sua fortuna literária” em quem tão calorosamente exaltou de público, e a meu ver justificadamente, uma obra que permanece de pé e altaneira, enquanto silenciaram por completo todos aqueles que se opuseram ao autor de um dos monumentos de nossa cultura? Mesquinharias da vida literária?

“De qualquer modo, conclui o romancista, aí estão os dois lados da mesma moeda, dando-nos o testemunho de que nem sempre José Veríssimo dizia de público, na sua crítica, o que pensava de livros e autores.” (Ob. cit. p. 46) 

 

 




Mais Notícias...
 
2323569
Acessos
 
Rua Treze de Maio, nº 1513/Sul – Vermelha - CEP 64018-285 Teresina-PI
Tel.: (86)3221.7083 FAX.: (86)3223.5577 CNPJ 01.742.710/0001-50

Criação, Desenvolvimento e Hospedagem