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HISTÓRIAS DE JOSUÉ MONTELLO – V
20/01/2011 00:10:19


M. Paulo Nunes

                    Com a data de 27 de novembro (1965) Josué Montello, a propósito da morte do crítico e ensaísta Astrojildo Pereira, deixou registrada, em seu Diário da Tarde, uma das mais emocionantes páginas de nossa história literária.

                   Astrojildo Pereira foi um dos fundadores do velho Partido Comunista do Brasil, depois Partido Comunista Brasileiro, em 1922, ano este, segundo Tristão de Athayde, dos mais significativos da história brasileira, porquanto nele podem ser assinaladas três revoluções: a política, com a fundação do PCB; a militar, com o primeiro 5 de julho daquele ano, dando início ao ciclo das revoluções brasileiras naquela década; e a literária, com a Semana de Arte Moderna, que ocorreu em São Paulo, de 5 a 12 de fevereiro do mesmo ano, com o advento do Movimento Modernista, que representaria uma mudança de padrões estético-literários em nossa literatura.

O autor de A Noite sobre Alcântara conta que, conforme o depoimento de Euclides da Cunha, há 57 anos passados, na noite em que morreu Machado de Assis, estavam reunidos em sua casa, no Cosme Velho, acompanhando a agonia do mestre, os escritores Coelho Neto, Graça Aranha, Mário de Alencar, José Veríssimo, Raimundo Correia, Rodrigo Otávio e Euclides da Cunha.

Naquele instante, ali entra um jovem, inteiramente desconhecido dos presentes e que, ao saber pelos jornais da agonia do autor de Dom Casmurro, viera fazer-lhe uma visita, embora só o conhecesse de nome. Mandaram-no entrar. “O moço acercou-se do leito em que jazia o mestre, tomou-lhe uma das mãos, beijou-a, aconchegou-a contra o peito, e logo saiu, sem uma palavra.” (Ob. cit., p. 610)

O autor de Os Sertões narrou a cena no dia seguinte, no Jornal do Comércio, e assim comenta aquele gesto do adolescente:

“Qualquer que seja o destino desta criança, ela nunca subirá tanto na vida. Naquele momento o seu coração bateu sozinho pela alma de uma nacionalidade. Naquele meio segundo – no segundo em que ele estreitou o peito moribundo de Machado de Assis, aquele homem foi o maior homem de sua terra.”

“Pois foi o autor desse gesto, acrescenta Josué Montello, a quem Euclides da Cunha dedica uma de suas páginas mais sentidas, que morreu no sábado, admirado por todos aqueles que, no Brasil, têm a perfeita consciência do ofício de escritor.” (Ob. cit., p. 611)  

Astrojildo Pereira tornar-se-ia, ao longo de uma vida tumultuada de militante de um partido político revolucionário e então proscrito, um dos maiores estudiosos da obra do autor de Quincas Borba. Um dos mais completos estudos que já se fizeram sobre o romancista, contido em seu livro Interpretações e a que intitulou “Machado de Assis, Romancista do Segundo Império”, trouxe novas luzes à análise do autor de Relíquias de Casa Velha. Ao vincular o romancista aos problemas e às preocupações de sua época – a segunda metade do século XIX, retificou de uma vez por todas aquele juízo que maldosamente e por bastante tempo foi posto a circular em torno da figura de Machado de Assis, como o de um escritor em cuja obra estariam ausentes os problemas sociais e políticos de seu meio social e de seu tempo e exclusivamente preocupado com a sua arte.

Homem de convicções profundas no plano das idéias, como assinala o autor da nota, sofrendo por elas prisões e exílios, a última das quais, poucos antes de morrer, em conseqüência do golpe militar, no ano anterior, guardaria entretanto até o fim a maior fidelidade ao ofício das letras, que exerceria com a maior isenção e a maior dignidade. 




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