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EVOCAÇÃO DE DA COSTA E SILVA
20/01/2011 00:10:17


M. Paulo Nunes

 Por iniciativa do acadêmico Herculano Moraes, tivemos, no último sábado, a realização da sessão conjunta das Academia Piauiense de Letras e do Médio Parnaíba, em homenagem aos 120 anos de nascimento do poeta amarantino Da Costa e Silva, ocorrido a 23 de novembro de 1885.

Além de seus presidentes, acadêmicos Paulo Freitas e Afrânio Nunes, que conjuntamente a presidiram, com um auditório seleto constituído de amarantinos e regenerenses, além de membros de nossa Academia, discorreram sobre o poeta, de acordo com a ordem de programação, o que escreve esta nota e o acadêmico e poeta Hardi Filho, ocupante da cadeira fundada pelo poeta de Zodíaco.

Dissemos ali algumas palavras, de improviso, que vão a seguir resumidas.

Destacamos o fato de ser o poeta a figura angular de três correntes literárias, o simbolismo, com Sangue, sua obra de estréia, em 1908, o parnasianismo, que se seguiu àquela com Zodíaco e, finalmente, o modernismo, em alguns poemas de feição modernista, como “Carossel Fantasma”, “Refrão do Trem Noturno” e “Carnaval”, que o poeta pretendia reunir futuramente em um outro livro, Alhambra, que não chegou a publicar. Ao mesmo tempo, se apresenta ele como neo-clássico, em Pandora, em que revive as formas do seiscentismo português ou a temática greco-latina, especialmente nos”sonetos de Eleusis”, contidos nesse mesmo livro, como ainda é o poeta elegíaco de Verônica, inspirado pela morte da mulher amada, a doce companheira Alice Sales Salomon.

Destaquei, naquela oportunidade, como já o fizera anteriormente em estudo sobre o poeta, os dois aspectos significativos na lírica do poeta, o saudosista e o elegíaco, de par com a sua identificação com a paisagem do rio Parnaíba, uma temática dominante em sua obra, como no famoso soneto “Rio das Garças”, em que se identifica com o destino do “velho monge”, ao dizer no terceto final, do livro Sangue: 

 

“É o Parnaíba assim carpindo as suas mágoas,

-Rio da minha terra ungido de tristeza,

Refletindo o meu ser à flor móvel das águas.”

 

Como saudosista, na linha da grande poesia portuguesa, como a de Garret, que a definia como “gosto amargo de infelizes” temos sua presença em várias composições do poeta como aquela de Pandora, o seu livro fiel ao modelo clássico, como já o dissemos:

“Saudade! Es a ressonância De uma cantiga sentida/ Que embalando nossa infância/ Nos segue por toda a vida”.Mas esse saudosismo que está presente em grande parte dessa alta poesia, e que se tornaria emblemática no soneto “Saudade”, que todo piauiense sabe de cor, se reflete ainda em outro grande soneto em que redescobre a terra natal e não resistimos ao desejo de cita-lo integralmente, e se contém em seu livro Pandora:

 

“Quando a minha saudade os olhos cerra,/ Na grata evocação de um sonho errante,/ Recordo, enternecido, a minha terra,/ Vendo-a mais linda quanto mais distante.

Ao longe, um panorama se descerra/ Sob o límpido céu, ao sol radiante:/ Entre os rios, as árvores e a serra,/ Branqueja a casaria de Amarante./

Lembro os sítios bucólicos... A ponte/ No manso riacho, onde brinquei menino,/ Curvado sobre a gruta, a ouvir a fonte.../

A igreja... E ouço, meu Deus! A voz do sino,/ Como a repercutir no amplo horizonte/ O repique augural do meu destino!” 

Finalmente, temos o elegíaco, em Verônica, um dos livros mais tristes da língua portuguesa, com versos que lembram a dolorosa acentuação de Leopardi, sobretudo em sua 2ª parte, a que intitulou Imagens do Amor e da Morte e se inicia com o soneto “Como uma sombra luminosa” e atinge momentos de alto desesperação, todos a lembrar a presença-ausência da amada morta e a serena desolação de tê-la perdido. Não vamos repeti-los nesta breve leitura, mas numa outra que pretendemos ainda fazer do excelso poeta.

Martins Napoleão, também um dos nossos grandes poetas, há pouco celebrado, em nossa Academia, no transcurso do seu centenário, na palavra erudita e culta do acadêmico Celso Barros, tocado pela desventura do poeta, deixou-nos seu desalento, num poema de revolta contra o destino pela perda da memória do inolvidável poeta, de expressão tão identificada com o sentimento de nossa gente:

“Criaste de novo o mundo à feição do teu sonho,/ enquanto os deuses criaram uma só vez, e por isso talvez o castigo medonho,/ como o raio que cai no carvalho montês.”

“Teu cérebro anoitece em sombra. E a esperança/ diz ainda ao coração os últimos adeuses.../ - a demência é de certo ainda a melhor vingança/ dos deuses contra quem foi maior do que os deuses...’

 




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