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Notícia

DO OFÍCIO DE REVISOR DE LIVROS
20/01/2011 00:10:00


M. Paulo Nunes

                  O velho Cineas Santos que me proporciona diariamente belas lições de vida (é a vantagem da idade provecta) já me revelou certa vez o seu processo de leitura de obras de estreantes que costumam solicitar-lhe o seu juízo e o seu endosso como crítico, ao que escrevem. Se se trata de poesia, por exemplo, que é o pecado predileto dos nossos “plumitivos”, ele geralmente escolhe para leitura um poema no começo do livro um, no meio, e outro, no fim do livro. Se a obra puder resistir a esse teste de esforço, está com meio caminho andado para sua aprovação. Graciliano Ramos, ao que se diz, procedia de maneira mais radical. Se, em duas olhadelas o livro não lhe agradava, rasgava os originais e jogava-os na lata de lixo.

É evidente que não procedo dessa forma com os livros em relação aos quais pedem meu desvalioso parecer. Às vezes os leio pela metade, outras, se se trata de obra que se possa ter como recomendável, vou até o fim. Outras vezes, ou por falta de tempo ou mesmo por negligência, sequer os leio. Mas, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Às vezes nos surpreendemos com revelações de primeira ordem, como já tenho assinalado,vez por outra, nestas notas.

Lembra-me aqui o caso do velho Tristão de Athayde com o famoso livro de estréia, na ficção, de José Américo de Almeida, A Bagaceira, livro que provocou uma revolução literária no país, que foi o romance modernista de 30 ou de documentação social da realidade brasileira.

Tristão conta que começou a lê-lo no bonde, na volta para casa, com a maior má vontade. Tratava-se de um livro mal impresso, saído das oficinas da Imprensa Oficial da Paraíba que deveria àquela época ser um horror em matéria de impressão gráfica. Mas logo no início da leitura começou a interessar-se pela obra, terminando-a com o maior entusiasmo.

Segue-se a publicação de seu artigo entusiástico em O Jornal, de que era à época o responsável pelo rodapé literário, a que dá o título de “Uma Revelação”, ou “Romancista ao Norte”, não me lembro bem. Daí à consagração literária em âmbito nacional foi um passo. Às vezes, na vida literária, nós, estudiosos do assunto, temos essas boas surpresas. Mas, para não arriscarmos perder o nosso precioso tempo com sensaborias literárias ou com literatices, que é a contrafação da literatura, é bom adotarmos a técnica do Cineas Santos, para não chegarmos ao radicalismo do velho Graça, que era, em matéria de estilo e composição literária de uma exigência mortal. Terminaria esta nota com aquele episódio já por mim referido em recente livro a respeito do autor de Angústia, A Lição de Graciliano Ramos, (Corisco, 2003)

O fato foi contado pelo jornalista Chico Lopes, em um jornal de Brasília, intitulado “Graciliano Ramos: escrever bem é um dever moral”.

Diz-nos ele naquele texto que o autor de Caetés ficava furioso com “frases mentirosas, alambicadas, adjetivos falsificadores, embelezamentos estúpidos”.

Alguém, um dia,  quando o romancista não se encontrava por perto, “deu uma olhada xereta no texto que estava revisando”, no velho Correio da Manhã, de que era ele à época o “Copidesque” (havia essa figura naqueles bons tempos). E notou que ele deixara ali, “numa canetada furiosa”, num texto alusivo ao Natal, que começaria pela expressão “bimbalham os sinos...” aquela descompostura que era muito do seu agrado: “Bimbalham os sinos é a p.. q... p... III”. (Ob. cit. p. 47) 




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