M. Paulo
Nunes
O único partido político a que me filiei na vida, uma única e última
vez, foi o Partido Socialista Brasileiro e da maneira bizarra com que vem
contudo a seguir.
Na reorganização partidária que se verificou no país, em conseqüência da
pressão popular da opinião pública, em 1945, sobre o Estado Novo getulista,
como conseqüência da volta dos pracinhas que participaram do teatro de
operações da Segunda Guerra Mundial, na Itália, e ainda da famosa entrevista de
José Américo de Almeida, concedida ao jornalista Carlos Lacerda, no Correio da Manhã, em fevereiro daquele
ano, não houve outra saída para o Ditador senão convocar eleições gerais para
aquele ano. Na criação dos novos partidos, que então se verificou, surgira a União
Democrática Nacional, a famigerada UDN, como um movimento que uniria as
principais correntes políticas que se opunham à ditadura. Criaram-se ainda o
Partido Social Democrático, o famoso PSD, como força remanescente dos
Interventores Federais do Estado Novo, e o Partido Trabalhista Brasileiro, que
seria a opção inteligente de Vargas para controlar os trabalhadores filiados ao
movimento sindical de tendência governista. Mantiveram-se ainda velhas siglas
partidárias, oriundas da República Velha, como o PL, Partido Libertador, do Rio
Grande do Sul, que propugnava pelo sistema parlamentarista de governo, o PR,
Partido Republicano, de expressão mineira, e ainda o Partido Agrário Nacional,
de expressão paulista, que lançaria um candidato à presidência da República,
nas eleições de 2 de dezembro daquele ano, o Sr. Mário Rolim Teles. E claro, o
Partido Comunista do Brasil, que vinha da clandestinidade e alcançava o seu
curto espaço de tempo de vida legal.
À UDN se incorporara a chamada Esquerda Democrática, abrigando as forças
de esquerda contrárias à ditadura que não quiseram submeter-se ao guante da
disciplina férrea do Partido Comunista. Ao desligar-se da UDN, em 1947, adotou
o rótulo por que ficou conhecido a partir de então, de Partido Socialista Brasileiro
(PSB). No Piauí, onde os acontecimento chegavam com muito atraso àquela época,
em decorrência da dificuldade de comunicações, tentamos organizar em 1949 a Secção Estadual do Partido uma turma de
intelectuais independentes que seriam: Abraão Atem, advogado e estudioso de
questões jurídicas, hoje juiz aposentado no Paraná, Moacy Sipaúba da Rocha,
ex-pracinha e estudante, que depois faria carreira na magistratura do Maranhão
e chegaria ali ao posto de desembargador e presidente do Tribunal, Raimundo
Basílio, funcionário público, já falecido, Edwaldo Reis da Silva, que exercia a
função de Agente Fiscal do Imposto do Consumo e firmaria o manifesto como
jornalista, e o que escreve esta nota, que era professor, além de outros.
A sessão pública de instalação da nova agremiação foi realizada na sede
local da UDN, à rua Álvaro Mendes, tendo a presidi-la a figura boníssima do Dr.
João Elias Tajra Filho, de saudosa memória, desvinculado de qualquer ligação
partidária e apenas tendo atendido a instantes apelos dos amigos para
participar daquele ato.
Organizou-se a seguir uma programação de caráter político para difundir
a doutrina do Partido que basicamente adotava o lema “Socialismo e Liberdade”,
a qual seria veículada pelas rádios locais que consistiam àquela época em microfones
de divulgação de notícias de propaganda comercial para as praças da cidade.
Acho que na primeira ou na segunda emissão do programa, apareceu por lá, pelo estúdio que a veiculava um oficial de
polícia, de nome Valentim, dizendo-se autorizado a impedir a divulgação do
programa, retirando-o assim sumariamente do ar. Era à época governador do
Estado o Dr. Rocha Furtado, eleito pela UDN, o partido da “eterna vigilância”
como era então o seu lema, mas, mesmo assim, sem deixar de estar a serviço da
política de repressão às esquerdas do governo Dutra, resultante da “guerra
fria”, o confronto de superpotência pelo predomínio das armas nucleares, tendo
de um lado os Estados Unidos da América e do outro, a então União Soviética.
O fato teve repercussão no Congresso Nacional, levado pelo presidente do
Partido, o deputado João Mangabeira, com a intervenção, em defesa do governo
estadual, do Deputado Antônio Maia Correia que ali declarou que o PSB, no Piauí, era uma organização
de que se teriam apropriado notórios comunistas.
Espero que nesses 60 anos de vida ativa do Partido Socialista tenham,
melhor sorte seus dirigentes, pois agora à sombra do governo, do que a daqueles
sonhadores que tentaram uma vez entre nós meter idéias novas na cabeça de
bugios, como sabe o personagem vicentino do Auto
da Mofina Mendez.