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BANDEIRA , SEMPRE
20/01/2011 00:09:32


M. Paulo Nunes

 Contrariando um dos meus dez leitores, ou provavelmente aqueles cinco a que se refere Machado de Assis, no início das Memórias Póstumas de Braz Cubas e mencionados em meu último artigo sobre aquele autor, o segundo deste ano de uma série que pretendo fazer sobre o romancista, o maior e mais perfeito de nossa literatura, no centenário de seu silêncio, volto, mais uma vez, a Manuel Bandeira, pelas razões a seguir explicadas.

 Com a realização do 4º Festival de Violão que, em caráter nacional, em boa hora realizam em Teresina os velhos amigos Cineas Santos e o  maestro Erisvaldo Borges, e se constituiu no maior sucesso, em termos de promoção artística, tivemos entre nós a presença aliciante de uma figura feminina de renome, a delicada violonista croata Ana Vidovic, uma das três maiores do mundo, segundo a informação da crítica especializada. Os cronistas de nossa capital, como Wellington Soares, em sua crônica dominical, membros de nossa Academia, em sua última sessão ordinária, como Raimundo Santana e o poeta Hardi Filho, só tiveram palavras de encantamento em louvor de Ana, não somente para sua arte superior, como para sua graça espiritual e sua beleza. O mestre Santana neste particular se excedeu, desmanchando-se em elogios os mais pródigos. De sorte que tudo isto é mais um motivo para voltar a Bandeira, que foi, que continua sendo, que o será para sempre um dos nossos maiores poetas líricos de nossa literatura. Fiz assim uma rápida releitura da obra do velho bardo, como ele se proclamava, neste final de semana, em homenagem àquele instante que vivemos em termos de apresentação artística da mais elevada expressão.

E relendo-o, na edição de suas Poesias Reunidas, Estrela da Vida Inteira, de José Olympio Editora (1970), em louvor dos seus oitenta anos, ali me deparo, entre outros, com o estudo primoroso e pouco lembrado, hoje em dia, de Gilda e Antônio Cândido de Melo e Sousa, na Introdução, ao dizerem:

“Poucos poetas terão sabido, como ele, aproximar-se do leitor, fornecendo-lhe um acervo tão amplo de interesses pessoais desataviados, que entretanto não parecem bisbilhotices, mas fatos poeticamente expressivos. O seu feitiço consiste, sob este ponto de vista, em legitimar a sua matéria -, que são as casas onde morou, o seu quarto, os seus pais, os seus avós, a sua ama, a conversa com os amigos, o café que prepara, os namorados na esquina, o infeliz que passa na rua, o jogo ondulante do amor”. (Ob. cit., p. 111)

Eis aí o mistério: o jogo ondulante do amor é a grande lição ou a nota dominante da poesia de Bandeira.

E para concluir, pois é preciso concluir, transcrevemos um de seus sonetos mais perfeitos, o “Soneto Inglês nº 1”, de seu livro Lira dos Cinquent’Anos e com ele reverenciamos os devotos da grande poesia de Bandeira e da língua portuguesa:

 

“Quando a morte cerrar meus olhos duros

- Duros de tantos vãos padecimentos,

Que pensarão teus peitos imaturos

Da minha dor de todos os momentos?

Vejo-te agora alheia, e tão distante:

Mais que distante – isenta. E bem prevejo,

Desde já bem prevejo o exato instante

Em que de outro serão não teu desejo,

Que o não terás, porém teu abandono,

Tua nudez! Um dia hei de ir embora

Adormecer no derradeiro sono.

Um dia chorarás... Que importa? Chora.

Então eu sentirei muito mais perto

De mim feliz, teu coração incerto. (Ob. cit. p.161)   

 

 




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