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AUTORES E LIVROS ESQUECIDOS
20/01/2011 00:09:29


M. Paulo Nunes

 Já escrevi, nesta coluna, mais de uma vez, sobre autores e livros esquecidos, aqueles que obtiveram, em determinado momento da história literária, a maior notoriedade possível e depois, de algum tempo mergulharam no lago do esquecimento. Muita gente hoje se interroga por que autores como Gilberto Amado,uma das mais brilhantes figuras de nossas letras, que tanto se distinguiram na primeira metade do século passado, como ensaísta (Grão de Areia) romancista (Inocentes e Culpados) ou o prodigioso memorialista de livros marcantes pela beleza literária com que narra os acontecimentos marcantes de sua época, com História da Minha Infância, Minha Formação no Recife, Mocidade no Rio, Primeira Viagem à Europa, Política ou Depois da Política. Na mesma linha de indagações, incluiríamos Axel Munthe, autor de um livro de sucesso, O Livro de San Michele. Romain Rolland, autor de um grande livro, uma sorte de romain-fleure, que toda a minha geração leu, Jean-Cristophe; somente Maugan, autor de um outro livro que se tornaria uma verdadeira coqueluche do momento, Servidão Humana, que resultaria num belo filme estrelado pelos atores Leslie Howard e Bete Davis, nos papéis de Philip e Mildred; o inglês Charles Morgan, com Sparkenbrook (que belo livro!), com o qual reinterpreta o mito do platonismo, em nossos dias; Thomas Mann, com A Montanha Mágica, livro também marcante em nossa geração e que li num dos momentos mais difíceis da minha vida e a tetralogia bíblica aquele autor, com O Jovem José e seus Irmãos, José no Egito e José, o Provedor, outro sucesso literário de que ninguém mais fala hoje em dia. Sinclair Lem, autor do famoso romance Babet, em que faz a radiografia da burguesia norte-americana da mesma forma que o fizera Honoré de Balzac, com a burguesia francesa; em sua Comedia Humana; ou ainda John Steinbek, com As Vinhas de Ira, que daria origem ao famoso filme de John Ford, protagonizado por Henry Fonda; afinal, não é possível puxar mais o novelo, pois assim não acabaria mais; Ernest Hemmingway em Por quem os Sinos Dobram, Adeus Às Armas e O Velho e o Mar, quem ainda fala neles? No entanto, foram figuras marcantes de sua época e deslumbraram aquele mundo do pós-guerra com suas histórias estapafúrdias e encantadoras.

E por que não falar também nos autores nacionais esquecidos e romancistas, poetas e memorialistas que tanto nos deslumbraram? Por que não evocar José Lins do Rego, com a saga dos romances do chamado ciclo da cana de açúcar – Menino de Engenho, Doidinho, Bangüê e essa obra-prima, que é Fogo Morto (Puxa! Que obra-prima! Diria Mário de Andrade, ao concluir sua leitura). E de Érico Veríssimo, tão bem aceito pela nossa supostamente letrada classe média? Érico, autor de obras marcantes com seguidor da vertente machadiana que também nos daria Lima Barreto, de romancistas de cidades, como o reinventor do meio urbano de Porto Alegre, com livros de tanta repercussão pública como Clarissa, Caminhos Cruzados, ou o tão badalado Olhai os Lírios do Campo? Ou o que trata da formação social do Rio Grande do Sul, o antigo continente de São Pedro,  O Tempo e o Vento, contendo a trilogia O Continente, O  Retrato e O Arquipélago. E Lúcio Cardoso, criador entre os modernistas do romance de 30 da vertente psicológica de Machado de Assis, com A Luz no Subsolo, Maleita ou esta alucinante narrativa Crônica de Casa Assassinada, digna de um Faulkner ou de um Dostoievsky? Estarão todos profundamente? E José Geraldo Vieira, com o seu Território Humano ou A Quadragésima Porta, o primeiro dos quais, recebido por Graciliano Ramos, antes da prisão, nunca pôde o romancista lê-lo, de fio a pavio, tão atormentado se encontrava em conseqüência do momento excepcional por ele então vivido? E o poeta Cassiano Ricardo, com a sua fase pau-brasil ou verde-amarelo, no primeiro momento do modernismo, com Vamos Caçar Papagaios, Borrões de Verde Amarelo, Martins Cererê e depois se revelaria o incomensurável e denso poeta de Jeremias sem Chorar e de O Sangue das Horas, de que não esqueceremos jamais aquele belo poema elegíaco “A Morte de Alice”.

Não poderemos deixar de fazer uma reflexão final a esta breve recensão de autores esquecidos, ao evocar mais uma vez, a sempiterna presença de velho ,Machado de Assis, ao completar-se, no próximo mês, um século de seu silêncio. Relê-lo é recria-lo a cada passo, quando ele surge a cada dia mais presente, mais completo, mais grandioso. Cada aspecto das nossa letras, no romance, no conto, na crônica, no ensaio, na crítica literária o restitui ante nós como a figura emblemática da nossa literatura. E conforme aquela fina observação do final de um de seus livros, Iaiá Garcia, “alguma cousa escapa ao nafrágio das ilusões”. Voltaremos ao assunto.





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