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AUSÊNCIA DE CASSIANO NUNES
20/01/2011 00:09:28


M. Paulo Nunes

No último número do Jornal da ANE, editado na Capital Federal, pela Associação Nacional de Escritores, do qual sou também colaborador permanente, deparo-me com um artigo de Cassiano Nunes sobre Monteiro Lobato, talvez o último daquele excelente homem de letras, por sinal que tratando de uma figura estelar de nossa história cultural, que constituía um dos temas de sua permanente admiração. Poucos dias depois, soube da morte daquele escritor e excelente amigo. É assim com imensa saudade que escreve esta nota de evocação repassada da mais funda emoção.

Em sua obra famosa, Conversações com Goethe, publicada por Ekermann, em 1837, ao revelar o genial poeta alemão o seu acentuado interesse pelas novas tendências literárias, prefigura o seu ideal de uma comunidade literária de todas as nações, na qual se reuniriam espíritos afins, em matéria de sensibilidade e gosto literário. Não seria o caso de defini-la com aquela expressão que tomaríamos de empréstimo ao título de um de seus mais apaixonantes romances – As Afinidades Eletivas,embora este trate de matéria bem diversa, ou seja, da análise psicológica de um caso de adultério?

Acho que são tais afinidades eletivas que nos aproximam de figuras de nossa convivência literária e afetiva e participam, como sabe o poeta Carlos Nejar, desse sentimento que congrega os que são de uma tribo errante, com a pátria no coração da linguagem.

Tomei contacto, pela primeira vez, com o poeta e ensaísta Cassiano Nunes, paulista de Santos, uma das figuras do mais agradável convívio que já conheci, por intermédio de um livrinho de sua autoria, editado pela Casa do Estudante do Brasil, intitulado O Lusitanismo de Eça de Queiroz, que me deixou a melhor impressão. Depois, ao haver escolhido Brasília como exílio provisório, o (re) encontro na Universidade de Brasília, onde pontificou, durante largos anos, até aposentar-se, em seu Departamento de Letras, como uma de suas figuras salientes, juntamente com o saudoso poeta e também excelente amigo Domingos Carvalho da Silva, nome emblemático da chamada Geração de 45. Ambos estiveram mais de uma vez em Teresina, por iniciativa minha, com a finalidade de participar de atividades literárias aqui realizadas, antes e após meu retorno para cá, em 1992. Cassiano e Domingos também foram naquela Universidade professores de minha mulher e de minhas filhas, Clarissa e Lenora, motivo este de maior aproximação entre nós.

Desse convívio com Cassiano resultou a publicação, no Correio Braziliense, de um estudo meu sobre um livro de poesias, de sua autoria, Jornada, no qual também falo de sua obra dramática, constituída das peças Nada Mudou, Sempre Haverá Anjos e As Mãos de Ema.

Cassiano Nunes era entre nós uma figura de exceção. Seu amor à literatura, de que resultou um ensaio da maior importância em sua obra, A Felicidade pela Literatura, sua dedicação à obra de Lobato, de modo, especial à correspondência do autor de O Escândalo do Petróleo com Godofredo Rangel, contida em A Barca de Gleyre e a outros temas de nossa vida pública dele fizeram um autorizado intérprete da realidade social e política do país.

Sua dedicação aos amigos constituía uma raridade em nossa vida literária, onde, de um modo geral, os espíritos são movidos por sentimentos menores como a inveja e o ressentimento. No particular, era ele um modelo de cidadão e de homem de bem.

Quando naquela cidade lancei meu primeiro livro, apenas para cumprir um ritual que me era imposto, surpreendi-me com sua presença entre os poucos amigos e conterrâneos que ali acorreram, como sua afetuosa apresentação, escrita para aquele ato, dando-me, com o prestígio de sua presença e o calor de sua palavra, o estímulo para prosseguir no áspero ofício de escrever.

Marcante foi sua participação na série de conferências realizadas por nossa Academia, promovida nas gestões acadêmicas dos presidentes Celso Barros e Raimundo Santana, O Brasil no Limiar do Milênio, um verdadeiro desfile de personalidades de destaque nos mais diferentes setores da cultura brasileira, tendo ele, com proficiência, discorrido sobre a “Poesia Brasileira”, a todos encantando com sua eloqüência e sabedoria.

É assim com o mais vivo sentimento de respeito e incontida emoção que evoco nesta hora tão triste para todos nós, seus amigos e admiradores, a figura exemplar, sob todos os aspectos, do mestre e companheiro Cassiano Nunes. Que Deus o tenha.




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