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A PROSA DIARÍSTICA PORTUGUESA
20/01/2011 00:09:23


M. Paulo Nunes

 Retomando o fio da meada, volto à prosa diarística na literatura portuguesa, focando-a na figura de Vergílio Ferreira, cuja romancística já foi tratada em artigos de imprensa ou em livros do autor desta nota.

                    Já fizemos aqui a distinção, baseada em opinião idônea, no caso, a do saudoso romancista Josué Montello, quando esclarece que a verdade histórica é uma, nas memórias, e outra, no diário. E citamos o caso do julgamento que faz o poeta Paul Claudel, quando embaixador da França no Brasil, de uma das maiores figuras da cultura brasileira, Rui Barbosa:  numa, chamado-o de inseto, dado o seu aspecto físico mirrado, e noutra, ou seja, em suas memórias, dando-lhe a reverência que merece o seu papel de homem público e figura proeminente de nossa cultura.

Dos representantes da literatura portuguesa, neste gênero de prosa, a diarística, Miguel Torga, Vergílio Ferreira, José Saramago e Fernando Namora, todos por mim lidos e relidos, pacientemente, ou seja, com a pachorra do leitor interessado, anotando-os, comentando-os em artigos de jornal, destacaria hoje o autor de Estrela Polar, Vergílio Ferreira, com quem cheguei a manter breve correspondência, como já declarei nestas notas, pelo fato de ter com ele talvez maior empatia, digamos assim. De Saramago também sou leitor compulsivo, porquanto pouco do que escreveu me é estranho e sobre ele também tenho escrito bastante, chegando a constituir verdadeira mania.

Mas, em relação ao autor de Manhã Submersa, em quem podemos surpreender o aspecto mais denso e mais profundo do romance português, tenho por ele maior inclinação. Além do mais, do ponto de vista filosófico, ou no seu caso particular, existencial, diríamos que tanto o seu romance, quanto o seu diário, calam mais fundo no leitor, pelo menos num leitor do meu tipo, preocupado com o problema do ser.

Na nova fase do seu Diário, que ele denomina Conta-Corrente I, que acabo de reler, pinçarei algumas citações sobre problemas que dizem de perto com as solicitações atuais, como a  posição do escritor diante da vida, ou com os chamados problemas existenciais, estes relativos ao ser, em conflito consigo mesmo ou com os outros seres. Ou, como diria o mítico Fernando Pessoa, os conflitos comigo e os “comigos” de mim.

Vamos começar hoje por um problema bem comum à nossa condição de escritor que, bons ou maus, todos o somos os que escrevemos:

“Aviso aos escribas meus irmãos, chegados à maioridade: Se um escriba noviço te pedir um prefácio que lhe lance o seu primeiro livro, ou um artigo que o apresente ao público ou o que for que o promova, se acaso esperas daí uma palavra de reconhecimento (em público), ou uma palavra de apreço (em público), ou uma dedicatória num livro, ou uma simples referência amável numa entrevista ou seja o que for de simpatia (sempre em público), não lhe escrevas o prefácio nem lhe escrevas o artigo nem te mexas donde estás para o que lhe dê um empurrão para a glória. E se um outro escriba se prepara para o arranque e te freqüenta a amizade e a adulação e o mais, com o fim de talvez o recompensares com um prefácio de apresentação, etc., não te movas nem te comovas, porque o que ele quer de ti é um jeito suficientemente agachado para lhe servires de pedestal. Porque para quem quer alçar-se à glória e seu proveitos, a maior humilhação que se lhe pode infligir é o favor. Porque o favor só se faz a quem é humilde e se não sente vocacionado para subir além da humildade. E para os outros o favor é humilhação mas sem possibilidade de a ele se poder reagir por o não parecer. Porque só a humilhação traz o odioso de o ser, é que pode pagar-se  em dinheiro contato, ou seja um outro ódio    “. (Ob. cit. p. 51.)  

 

 




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