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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
20/01/2011 00:09:21


M. Paulo Nunes

 No processo de releitura dos ícones da literatura de língua portuguesa, iniciado há algum tempo já, com Machado de Assis, voltei mais uma vez, (até quando?) à Ilustre Casa de Ramires do velho Eça, um de seus últimos romances, juntamente com A Cidade e as Serras, que ele sequer chegou a rever, antes de sua publicação, porquanto a morte o levaria cedo.

Fidelino de Figueiredo, que o coloca entre os grandes livros de Eça, da última fase, põe-no acima de Os Maias, que considero sua obra-prima e apenas, do ponto de vista histórico, situado na fase realista, escola que apenas lhe serve de modelo, como técnica de composição literária, como também serviria ao Machado de Assis da segunda fase. Mas A Ilustre Casa é também um grande livro e nele o romancista, pelo menos para os patriotas, como Pinheiro Chagas e os outros, estabelece o seu reencontro com as suas raízes, não apenas porque reconstitui, através da crônica que Gonçalo Mendes Ramires está escrevendo sobre os seus avós afonsinos, essa Torre de D. Ramires, mas pelo declarado amor à terra portuguesa. O episódio nuclear, como é bem de ver, são os feitos do façanhudo Trutezindo Ramires, uma figura moldada pelo romancista em bloco de granito, e sua terrível vingança contra Lopo de Baião, o Bastardo, que lhe mata o filho Lourenço, às portas do castelo, como vingança pela recusa da mão de D. Violante, a filha mais nova do senhor de Santa Irenéia.

Ao lado desse passado que ele reconstitui com segurança, em estilo adequado à época, conta as peripécias da vida de Gonçalo, em Vila Clara, onde se localiza a Torre de Santa Irenéia, edificação mais antiga que o Reino, com as suas preocupações atuais, as suas diatribes contra o governador civil, André Cavaleiro, com quem depois se reconcilia por interesse, visando uma cadeira no Palácio de São Bento, em substituição do velho Sanches de Lucena, que morre inesperadamente, suscitando uma profunda inquietação no fidalgo da Torre, que lhe deseja o lugar. Desejo este soprado em uma noite de cavaqueira pelo amigo João Gouveia, o administrador do Concelho, e lhe acende também o desejo de posse da bela viúva, D. Ana de Lucena, não só pela beleza, mas ainda pelos duzentos contos que lhe ficam de herança, união que se frustra com a  informação supostamente veraz do amigo Titó, o Antonio Vilalobos, de que ela tivera anteriormente um amante.

A eleição é tranqüila, dada a popularidade do fidalgo da Torre que sequer necessitaria das concessões feitas a contragosto ao poderoso André Cavaleiro, em tudo movido por um capricho, o de obter os favores da ex-namorada e irmã do protagonista, Gracinha, já então casada como José Barrolo, que reside em Oliveira, no belo  palacete dos Cunhais.

Depois, a grande surpresa. O novo deputado por Vila Clara mal tem assento na cadeira de São Bento, abandona tudo e parte para a África, seguindo o destino de seus avós,  e vai cuidar de uma concessão de terra, ou “prazo”, para usar a linguagem  da época, e ao final do romance está ele, depois de quatro anos, de volta à terra e à velha Torre, onde o aguardam os amigos, inclusive o santo homem Pe. Soeiro, para uma geral confraternização. Um saco de espantos, como personagem, esse Gonçalo Mendes Ramires.

O já citado Fidelino de Figueiredo, em estudo sempre lembrado, de seu livro Últimas Aventuras, afirma que em Eça, “arte é estilo”. Como acrescenta  Álvaro Lins, naquele livro da mocidade, que assinala sua estréia, História Literária de Eça de Queiroz, de 1939, mas dos melhores deste autor, com um sofrimento de desesperado, foi a perfeição pelo estilo.

É ainda do autor do Jornal de Letras a observação de que para Eça de Queiroz “o meio de expressão condensa, assim, todas as possibilidades e recursos do seu métier. Concentra-se no estilo perfeito o fundo do seu sofrimento. O sentimento de construir a vida, os fenômenos morais, as paisagens, de levantar um mundo, em movimento, com os elementos, em si mesmos mortos e parados, das palavras.” (Ob. cit., p. 151)

Tarefa que ele exemplarmente cumpriu em seus romances, de modo especial, neste que constitui um modelo de estilo perfeito e um convite à boa leitura.




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