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UMA PÁGINA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA – VI
20/01/2011 00:08:48


M.Paulo Nunes

 Acho que devo concluir estas notas em que tentamos abordar um dos aspectos e um dos instantes de maior significação na história da educação secundária em nosso país a que estive, por dever de ofício diretamente ligado.  Ao comentá-lo, procurei fazer aquilo que disse haver observado o mestre de nosso romance contemporâneo, Graciliano Ramos, em suas Memórias do Cárcere, logo no início do 1º volume da 1ª edição:

Quero por último referir-me a uma contribuição importante das Inspetorias Seccional ao processo de expansão e desenvolvimento da escola secundária, então o carro-chefe do ensino de grau médio no país. Refiro-me às primeiras experiências de planejamento educacional que se fizeram no país, a partir de 1961, e da qual participariam ativamente os Inspetores Seccionais das capitais do país.

Como se tratava de uma iniciativa praticamente inédita no MEC, teve sua execução confiada às ISES, como uma forma de parceria entre o MEC e as secretarias estaduais de educação.

Assim é que participamos, àquela  época, dessa primeira experiência de planejamento educacional que se fazia em nosso país, o programa educacional de emergência, criado por Darcy Ribeiro, como ministro da Educação do primeiro governo parlamentarista, instituído após a renúncia do presidente Jânio Quadros para solucionar o impasse com as forças armadas que se opunham à posse do presidente João Goulart, em setembro de 1961.

O aludido programa contava de construções escolares, treinamento de professores, distribuição de livros didáticos e material escolar, e de uma biblioteca básica do professor. Foram construídos e aparelhados grupos escolares e escolas isoladas em algumas cidades e povoados do interior do Estado. Em Teresina, ampliou o número de salas de aula do Liceu e foram construídos os grupos escolares Anísio Teixeira e Miguel Borges, este, não sei por que razão, com a sede há muito ocupada pela Cooperativa da Polícia Militar. Posteriormente, esta serventia seria continuada na execução dos projetos relativos ao plano trienal de educação que se seguiu àquele programa. Foi esta igualmente uma tarefa da maior responsabilidade, porquanto exigiria do representante do MEC, que éramos nós, uma pertinaz vigilância, afim de que os recursos destinados a essa programação não fossem desviados um milímetro que fosse da finalidade a que eram destinados, diferentemente do que ocorre atualmente em Pindorama. Não foi fácil, como vêem, essa tarefa.

Caberia aqui talvez neste final, um réquiem ou uma pavana às antigas Inspetorias Seccionais e a seus dedicados servidores que tanto fizeram, a braços com mil dificuldades financeiras, para manter limpo o nome do Ministério, em momentos tão graves por que passamos em nosso vida pública. Convertidas posteriormente em Delegacias Federais de Educação, nos Estados, foram criminosamente fechadas por meio de uma portaria infeliz do então ministro da Educação, Paulo Renato de Sousa, ao ouvir o canto de sereia de sua frustrada pretensão ao de concorrer à Presidência da República, e facilitar assim a sanha dos prefeitos do país aos recursos do FUNDEB, que no uso de sua criação (1996) atingiram 12 bilhões e quinhentos milhões de reais, dos quais foram desviados 3 bilhões e quinhentos milhões. Que falta fizeram naquele instante os antigos Inspetores Seccionais do MEC ou mesmo os delegados federais que passaram, com as Delegacias a fiscalizar-lhes a rigorosa aplicação. Às vezes tremo nas bases de velho e curtido servidor público ao sentir rugindo ao derredor de nós essa onda ensurdecedor de corrupção, sepultando os sonhos paraléticos e as fementidas esperanças de uma pobre geração perdida, ao contemplar esta pagada e vil tristeza, como diria o poeta excelso, em que se converteu a vida pública nacional.

Consolo-me, entretanto, ao aproximar-me do termo da jornada, falando ainda pela voz dos poetas, de um dos heterônimos do sempiterno Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, que para aqui transponho como consolo e justificação:

“Quando vier a Primavera,/ Se eu já estiver morto,/ florirão da mesma maneira/ E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. A realidade não precisa de mim./ Sinto uma alegria enorme/ Ao pensar que minha morte não tem importância nenhuma.” (Cf. Fernando Pessoa – Aguilar Editora, p. 216)

Desgosta-me usar a primeira pessoa. Se se tratasse de ficção, bem: fala um sujeito mais ou menos imaginário; fora daí é desagradável adotar o pronomezinho irritante, embora se façam  malabarismos por evitá-lo. Desculpo-me alegando que ele me facilita a narração. Além disso não desejo ultrapassar o meu tamanho ordinário. Esgueirar-me-ei para aos cantos obscuros, fugirei às discussões, esconder-me-ei prudente por detrás dos que mer5ecem patentear-se.” (Ob. cit., José Olympio Editora, 1953, p. 11)

 

 

 




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