M. Paulo Nunes
Foi relendo os
belos estudos contidos no livro de autoria deste sábio representante da cultura
brasileira que é Alberto da Costa e Silva, Das Mãos do Oleiro (Editora
Nova Fronteira, 2005), de modo especial o ensaio primoroso por ele denominado
“Quem fomos no século XX: as grandes interpretações do Brasil” que descobri a
explicação para o processo de construção da obra admirável de Jesualdo
Cavalcanti, Memória dos Confins (Teresina, 2005), por mim apresentada
quando de seu lançamento, em junho de 2005. Ou seja, o país não era aquele
entrevisto por nossas elites dirigentes, visto de fora para dentro, como parte
da expansão mercantil do nascente capitalismo europeu para fornecer-lhe açúcar
e bens extrativistas. “O seu enredo, no entanto, diz-nos ACS, não foi tecido
apenas por esses interesses, mas pelas classes sociais em luta. “(Ob. cit. p.
88)
Sempre me intrigara no processo de formação social e
econômica de nosso Estado o fato de termos desenvolvido comunidades prósperas
no interior, com câmaras municipais autônomas, como as de Jerumenha, que se
oporia, num gesto de conservadorismo, mas também de altivez, ao gesto de D.
Pedro ao proclamar a nossa independência, às margens do Ipiranga. E outras como
as de Parnaíba, Campo Maior e “last but not least”, Oeiras, a ex-capital.
Assim se explica o
fato insólito de Parnaguá, no extremo sul do Estado, ter-se revelado, em pleno
período de formação, um núcleo altamente desenvolvido, política e
economicamente, como fonte qeradora de progresso e desenvolvimento, capaz de
subsistir por si mesma, a tantas lutas e mutações sociais e políticas.
O livro de Jesualdo
Cavalcanti nos conta esta bela história. Parnaguá, aparentemente sem qualquer
influência política e econômica, nos daria uma galeria de pró-homens, alguns
deles detentores de títulos nobiliárquicos, que muito influíram na história de
seu tempo.
Por tudo isso pode
ser tido este como um livro revelador. Das possibilidades que temos de
construir o nosso próprio destino.
Tomemos um exemplo
apenas: o do início da navegação do rio Parnaíba, fator que determinaria a
mudança de nossa capital, de Oeiras para a margem do Parnaíba, determinada não
apenas pela necessidade vital para superarmos a primazia comercial de Caxias,
mas também pelo incremento da política econômica do Estado que passaria a ser feita através do rio
Parnaíba.
Conforme depõe o
autor desta obra que ora comentamos, não tendo o rio papel estratégico
significativo na longa caminhada que se inicia com a fundação dos primeiros
currais na década de 1670, a influência de Paranaguá, um núcleo irradiador, já
àquela época, de cultura e civilização, ter-se limitado apenas ao sul da
Província. “Daí o acesso de Parnaguá ao alto Parnaíba, para usarmos suas
próprias palavras, ter-se iniciado somente em 1854, quando, numa verdadeira
marcha empreendida para o sudoeste, partia dos sertões de Gilbués o capitão
José Antônio Barreira de Macedo para, em balsas de buriti, alcançar a
recém-criada Teresina e, na volta, à margem direita do Parnaíba, fundar a
povoação de Stª Filomena, com garantia de apoio oficial (Of. cit., pp.6-7).
Fiquemos, por enquanto, por aqui. Livro revelador e rico em
informação documental, fruto do trabalho persistente deste incansável
pesquisador, por certa haverá de ficar como das mais seguras contribuições à
nossa história, realizada com método e apoio documental. Parabéns ao dileto
amigo e historiador de peso pela obra realizada em favor do Piauí e de seu
povo.
*Ex-presidente da
Academia Piauiense de Letras e escritor