M. Paulo Nunes
Li há poucos dias, em nossa imprensa nota que me deixou forte impressão.
Refiro-me à notícia de que o analfabetismo no Estado, atinge no momento o
índice alarmante de 30 por cento. Uma ilustre autoridade o teria contudo
achando que não seriam 30 mas 27,9 por cento. Não sei afinal qual seria a
substancial diferença entre um e outro índice, porquanto a situação resultante
é a mesma, ou seja, alarmante. Significa isto que um terço de nossa população
continua fora de qualquer benefício resultante da chamada inclusão social.
Igualmente, naquela nota é feita grave restrição à qualidade do nosso ensino
público o que, de resto, não constitui nenhuma novidade.
O fato parece ligar-se ao “destino manifesto” de Portugal sobre suas
colônias, de modo especial, o Brasil.
O rei D. João III, que substituiu no trono português D. Manoel, o
Venturoso, sob cujo reinado se deu o “achamento do Brasil”, foi um dos monarcas
mais atrasados da Europa. O seu plano de colonização do Brasil, através das
Capitanias Hereditárias, representou o maior desastre econômico e social para a
nova terra descoberta pelos portugueses. Não esqueçamos que este rei desatinado
foi o responsável pelo estabelecimento da inquisição em Portugal, em 1536, esta
página negra da história portuguesa de que o historiador Alexandre Herculano
nos apresenta o quadro ominoso, com aquela sucessão de horrores descrita em seu
livro terrível, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em
Portugal. Ao converter perpetuamente em feudalismo hegemônicas o território
da nova colônia, criou situações que ainda hoje impedem o país de crescer e
desenvolver-se de forma racional e equânime, vencendo o latifúndio e a miséria
desde então dominantes. Para o Piauí isto representou a nossa sentença de morte
ao vincular-nos permanentemente aos desígnos sinistros da Casa da Torre e ao
poderio dos Ávilas ou de seus prepostos na Capitania, como esse fanático
Domingos Afonso Mafrense que tantos males nos causaria. Não fora a reação encarniçada
de posseiros contra sesmeiros e estaríamos ainda hoje vergados ao peso de uma
servidão que nos inviabilizaria como território aspirante a uma relativa
autonomia.
Em meados do século XIX quando estabelecíamos na Província as primeiras
escolas régias que eram escolas elementares para ensinar à população a ler,
escrever e contar, o grande educador argentino Domingos Faustino Sarmiento
criava, no governo de Urquiza, com quem bateu-se nas hostes do exército
libertador, um sistema de educação básica em Buenos Aires estendendo-o, a
seguir, a todas as províncias para toda a população. Depois esse mesmo
iluminado estadista, ao exercer a presidência da República, no período de 1868
a 1874, consolidou em definitivo a sua nomeada de estadista da educação. O
resultado é que a Argentina é hoje um país educado e culto e sem analfabetos,
enquanto oferecemos ao mundo esse espetáculo degradante de um povo deseducado e
pobre, com algumas áreas de excelência, que pouco representam no contexto geral
.....
O que fazer como dizia Lênin em estudo famoso? Vamos deixar por um
momento a politicalha e estabelecer políticas públicas voltada para o interesse
geral da população. Em matéria de políticas públicas estamos voltando aos
corrilhos e ao clientelismo do tempo da “república velha”, anterior à Revolução
de 30. Vamos se............... elas essa fase e voltar os olhos para o futuro.
O Brasil é um grande país em condição de tornar-se uma grande potência.
Eduquemos o nosso povo, dando-lhe uma educação eficiente como queria o grande Anísio
Teixeira. Só assim sairemos do atoleiro em que nos afundamos. Não percamos a
mocidade, que é o bem melhor de que dispomos, porquanto os jovens constituem
“os amanhãs que contam” de que fala o poeta.