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UMA PÁGINA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA – I
20/01/2011 00:08:36


M.Paulo Nunes

 Em Memórias Póstumas de Machado de Assis, Josué Montello, no melhor livro jamais escrito sofre o criador de Capitu, assinalou:

“Cumpre não esquecer que cada escritor, além dos livros que escreveu e publicou, tem ainda os que sonhou escrever, mas para os quais não dispõe de tempo e de oportunidade para transferi-los ao papel.”

Acrescenta ainda o nosso romancista e escritor que o Bruxo do Cosme Velho, com as reminiscências que conseguiu captar na bela crônica sobre o Velho Senado, deu-nos a exata dimensão do que teriam sido as suas próprias lembranças no caso de ele mesmo as haver abordado, “ou nos textos existentes ou naqueles que iria escrever.” Para compor a nossa mais bela evocação, bastaram-lhe aquelas litografias de Sisson a respeito do Senado de 1860,  para que suas lembranças aflorassem “e o texto literário afluísse ao papel da escrita de modo realmente irretocável”. (Ob. cit. p. 24)

Outro dia sonhei com uma aula de História ministrada na CADES, sob a regência do saudoso mestre Wall Ferraz, que dali sairia par a sua tarefa de administrador público dos mais competentes e sérios que tivemos. Para os que não acreditam na imortalidade, e felizmente não sou um deles, a alma humana sobrevive pelos menos através das lembranças recorrentes do subconsciente, de onde afloram a cada passo de nossas vidas.

De vez em quando essas lembranças me açodam e, ao contrário dos sonhos maus que queremos esquecer, desejaria que elas ficassem para sempre fazendo parte de nosso rosário de recordações.

Em minha longa serventia de administrador público e servidor da educação brasileira por quase meio século, a CADES (Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário) constitui uma delas. Criada em 1954, pelo então Diretor do Ensino Secundário, Armando Hidelbrand, tinha ela por escopo preparar em cursos rápidos e intensivos o professorado brasileiro que, na ausência ainda de  docentes formados em nível superior, pudessem atender à demanda de ginásios e colégios secundários que se criavam no país, com a rápida expansão desse nível de ensino que se estendia por toda parte. Essa expansão, sob certos aspectos, também desordenada, constituía a forma mais rápida de elevação social daquele discipulado ainda fora dos bancos escolares, na idade de formação, que iria constituirformar, à falta de escolas, a população marginalizada cujo destino seria a miséria e o crime, que hoje abundam em nossas periferias urbanas e constitui esta mancha a desafiar a competência de nossas autoridades responsáveis pela segurança no país. Se houvéssemos a tempo realizado nossas reformas  educacionais profundas, na época em que o fizeram países no mesmo estágio de desenvolvimento social e econômico, como a Argentina, sob a égide de Domingo Faustino Sarmiento, em meados do século XIX, ou os japoneses, na época da dinastia Meiji, ou ainda, modernamente a Coréia e a Tailândia, mesmo sem mudar revolucionariamente o regime social e político, não estaríamos a assistir a essa luta cruenta em que estamos envolvidos, nesta batalha diária do povo brasileiro pela sobrevivência.

De todos os movimentos pedagógicos ou sociais e políticos em que no meu tempo estive envolvido, visando preparar um país melhor e não esta aberração que aí está, como o exemplo mais vivo da negação de todas as conquistas sociais, nenhum sobreleva a minha experiências como Inspetor Seccional do Ensino Secundário em nossa capital. Mobilizados na preparação de professores para o desempenho eficiente de suas funções docentes em estabelecimentos que eram criados, também em caráter de emergência, através da CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade), que teve no saudoso Arcebispo D. Avelar Brandão Vilela o seu inspirador e no professor Roberto Gonçalves Freitas, dentre outros, o seu grande artífice, estavamos convencidos de preparar pela educação um país melhor e mais justo para todos. Ou pelo menos “os amanhãs  que cantam”, no dizer do poeta.

Foi uma batalha longa áspera e difícil. Fiquei dez anos sem direito a férias, porquanto os cursos se realizavam no período de férias escolares e como eu era também professor, tarefa de igual modo, extenuante, não me sobrava tempo nenhum para o necessário lazer. Até hoje não sei ainda como sobrevivi e estou aqui, aos oitenta e um anos, vivo e lúcido, com a graça de Deus, para contar-lhes a história. (Continua)         




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