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ALBERT CAMUS
20/01/2011 00:08:32


 M. Paulo Nunes

  Pensei que já houvesse escrito uma nota para esta coluna sobre Camus (1913-60), incluindo-o naquela relação ou galeria de autores esquecidos da nossa e de outras literaturas. Refiro-me àqueles que surgem de repente, adquirem em sua época grande notoriedade e de pronto mergulham naquele sol dos mortos a que se refere Balzac, tendo o esquecimento como destino literário. Tristão de Athayde referiu-se certa feita a autores medíocres de livros famosos que por um momento brilham como estrelas cadentes (a imagem é minha) e de repente mergulham em total e absoluto esquecimento. E cita entre outros os casos de Wendell Wilkie, político norte-americano que se opôs a Roosewelt numa de suas eleições presidenciais e autor do livro de sensação Um Mundo Só, e a Axel Munthe, com a sua obra O Livro de San Michelle, que também causou sensação ao aparecer.

Camus foi um desses monstros sagrados. Argelino, engajando-se na Resistência Francesa ao tempo da Segunda Guerra Mundial, junta-se a Sartre e a outros companheiros da esquerda francesa, através do jornal O Combate, após uma rápida passagem pelo Partido Comunista que era, naquela fase, uma espécie de batismo de fogo da intelectualidade de esquerda européia.

Além da Resistência, também se aproximou de Sartre, com quem depois romperia, como ocorreu com o filósofo Merleau-Ponty, pelo mesmo motivo, a discordância política, expondo suas idéias filosóficas no livro O Mito de Sísifo, ensaio sobre o absurdo, através das quais se identifica como Sartre de O Ser e o Nada. Nele expõe sua filosofia do absurdo, originária da antionomia entre o homem e sua situação irracional no mundo, da qual somente se liberta pelo conhecimento e pela razão.

Seu estudo famoso O Homem Revoltado, publicado em 1951, ensaio político em que expressa sua paixão pela revolta permanente como expressão de uma honestidade desesperada, é erroneamente recebido como profissão de fé direitista e anti-revolucionária que o leva ao rompimento com seu velho amigo Sartre, como já foi dito.

Foi Camus também um entusiasta do teatro de que resultaram suas obras originais O Malentendido que juntamente com O Estrangeiro enfeixa suas idéias filosóficas expressas no ensaio O Mito de Sísifo, Calígula e O Estado de Sítio. Foi também um adaptador de autores famosos como Calderón de la Barca, Lope de Veja e ainda Faulkner e Dostoievski, com adaptações bem sucedidas.

De sua obra de romancista se destacam O Estrangeiro, sua obra de estréia literária e A Peste, sua obra-prima, cuja metáfora é a ocupação alemã, que li numa tradução de Graciliano Ramos.

Há que referir ainda seu Diário, publicação póstuma e praticamente ausente de sua fortuna crítica, mas aquela em que sua angústia existencial se manifesta da forma mais dolorosa, com crises que o levam quase ao suicídio, que seria no caso a negação de suas idéias, porquanto significa uma das formas de evasão descartadas de seu ideário, pois que representariam a supressão da consciência.

Em 1957 recebe a consagração máxima ao ser-lhe atribuído o Prêmio Nobel de Literatura, e falece três anos depois em um desastre de automóvel.

Josué Montello, em sua obra diarística Diário da Noite Iluminada, refere uma passagem do livro por ele considerado magistral, de Lottman, sobre Albert Camus, que punge, “à revelia da glória literária que a vida proporciona ao romancista.”

“Para mim, continua o autor de A Noite sobre Alcântara, que o conheci no Rio de Janeiro, associada à admiração por seus romances, o fecho do livro de Herbert R. Lottman quase me fez chorar: ‘O visitante que, hoje, penetra no cemitério, em Loumarin, encontra um túmulo quebrado, coberto por espessa moita de alecrim; a lápide,com o nome e a datas de Camus, parece velha de vários séculos. Alguém por vezes deixa ali uma cruz – freqüentemente muito simples, tirada de um túmulo. No entanto, pelo menos uma vez, deixaram sobre a lápide uma grande cruz de pedra, retirada de algum túmulo em ruína.”

E conclui:

“Camus morreu em 1960, num desastre de automóvel, e seu biógrafo lhe viu o túmulo, quinze anos depois. Três lustros apenas. E já estava esquecido pelos parentes e amigos. (Ob. cit. p.457)




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