Inicial   O Conselho   Sessões   Publicações   Revistas   Fale Conosco
 

Notícia

EVOCAÇÃO DE NILO BRUZZI
12/01/2011 00:08:14


M. Paulo Nunes

 

          Em minhas constantes releituras da prosa memorialística de Josué Montello, que considero também, ao lado do romance e de sua ensaística, o aspecto mais relevante de sua literatura, deparei-me há pouco, em nota de 2 de abril (1976), de seu Diário do Entardecer(1967 – 1977) com uma bela página sobre o escritor Nilo Bruzzi, figura pouco lembrada na história da literatura, mas muito festejada, durante algum tempo, em nossa vida literária, pela sua presença constante em jornais e revistas literárias, como Para Todos, O Malho e Fonfon, todos hoje de saudosa memória.

        Pertenceu ele à geração que antecedera o Modernismo e admirava figuras como Hermes Fontes, Tasso da Silveira e Andrade Murici, sendo, além do mais, devoto de poetas como Bilac, Alberto  de Oliveira e Raimundo Correia, a bendita trindade do parnasianismo, ou seja, como nos diz o  autor de Os Tambores de São Luís, de poetas que sabiam rimar e compor um soneto.

        Esta simpática figura é por nosso autor retratada, no início daquela nota, como “todo de branco, colete, relógio de corrente de ouro, flor na lapela, com a elegância de almofadinha de outrora a que faltasse apenas a bengala e o chapéu de palha” e no fim da tarde entrou pelo gabinete do então diretor da Biblioteca Nacional, com as mãos à altura dos ombros para dizer-lhe:

        “_ Diretor, meus parabéns. Sua biblioteca tem tudo quanto eu precisava para meu trabalho. Vim aqui agradecer.”

        Discorreu a seguir sobre suas pesquisas em torno da vida e da obra de Casimiro de Abreu, que considerava poeta único, o seu poeta genial.

        Acrescenta o autor de Os Degraus do Paraíso que, no domingo seguinte, em casa do escritor Múcio Leão, onde ia com frequência, este, ao entrar, lhe perguntou se ele conhecia Nilo Bruzzi. Só então pôde associar o nome à pessoa.

        Passou então a olhá-lo com outros olhos, associando-o às figuras que, ainda em São Luís, lia naquelas revistas ao lado de Pereira da Silva, de Da Costa e Silva, de Álvaro Moreira. Era aquele?

        E assim que pôde falar-lhe, abrindo-lhe uma pausa no seu vasto saber sobre Casimiro de Abreu, recitou-lhe este soneto:

“No turbilhão da vida cotidiana, / há sempre um rosto oculto de mulher./ Há  no  tumulto  da  existência humana / alguém  que a gente quis e ainda quer./

Mas, numa febre de paixão insana, / cego e humilhado, aceita outra qualquer. / Só, sem íntimo ardor; de alma profana, / porque a alma nunca acordará sequer./

E vão passando assim, uma por uma, / mulheres e mulheres, como vieram, / sem despertar depois saudade alguma./

Pobre de quem, como eu, vê que, infeliz, / teve todas aquelas que o quiseram / mas nunca teve aquela que ele quis.”

Nilo o abraçou comovido e lhe disse:

“_ E eu pensava que você não gostava de minha poesia.”

        A nota melancólica fica por conta do autor de A Noite sobre Alcântara.

        “Isto se passou há 25 anos.

Ficamos amigos. Velhos amigos. Depois, como a vida sempre separa cada um de nós, seguiu o seu caminho, até que ontem, na Academia, Mauro Mota pediu a palavra para recitar o mesmo soneto, com a sua autoridade de grande poeta. Quando terminou de recitar, deu-nos a notícia de que Nilo Bruzzi, alguns dias antes, aqui no Rio, se retirara da vida sem ruído, como se saísse deste mundo pisando de leve, para não incomodar.” (Ob. cit., pp. 733-4).




Mais Notícias...
 
2332163
Acessos
 
Rua Treze de Maio, nº 1513/Sul – Vermelha - CEP 64018-285 Teresina-PI
Tel.: (86)3221.7083 FAX.: (86)3223.5577 CNPJ 01.742.710/0001-50

Criação, Desenvolvimento e Hospedagem