Por Cinéas Santos
Com um pouquinho de atraso
(antes tarde do que nunca) a Globo resolveu brindar os sem-humor inteligente
com uma aula de bom humor ministrada por um experto : Chico Anísio. Como se
sabe, além de bastante adoentado, o humorista vem sendo conservado em geladeira
de luxo pela Vênus Platinada. A Globo já não precisa dele, mas não o libera por
medo de vê-lo brilhar numa das concorrentes. O tipo de humor que o Chico faz já
não se enquadra na nova “filosofia” da emissora, que fez sua opção preferencial
por Zorra Total e assemelhados. Segundo um cronista irreverente, “A burrice
vende fácil”. Falta-me autoridade para contestá-lo.
O certo é que, no domingo
passado (dia 2), a molecada ,com menos de 20 anos, pôde conhecer parte da
galeria de personagens criados e interpretados pelo maior humorista brasileiro
de todos os tempos. A exemplo dos heterônimos de Fernando Pessoa, cada
personagem do Chico (são mais de cem) tem história, conduta, personalidade
reconhecíveis.
Alguns, de tão patéticos e
tão humanos, poderiam estar agora entre nós, ou melhor, poderiam ser um de nós.
Como a Globo já está engatilhando o Big Brother Brasil 11, pôs os personagens
do Chico numa espécie de reality show ao lado das ex-bbbs Priscila, Angélica,
Cacau e caterva, tendo como apresentador Milton Gonçalves. Em pouco mais de
trinta minutos, desfilaram pela telinha: Pantaleão, Popó, Salomé, Professor
Raimundo, Painho, Bozó, Haroldo, Tavares, Azambuja, Silva, Quem-Quem, Nazareno,
Tavares, Coalhada, Gastão, Justo Veríssimo,Santelmo e o histriônico e canastrão
Alberto Roberto. O que se viu, a despeito do roteiro pobre, foi uma aula
magistral de interpretação. De quebra, Chico Anísio, com voz cansada, ainda nos
brindou com daqueles causos que só ele é capaz de contar com picardia e graça.
País curioso o Brasil: com
tanta gente talentosa que sabe cantar, dançar, interpretar, os produtores de TV
preferem apostar todas as fichas no que há de mais pobre, mais abjeto, mais
vulgar em matéria de entretenimento. A tônica parece ser: “quanto pior,
melhor”.
Particularmente, acho que
se trata de um processo galopante de emburrecimento do público jovem,
notadamente daquela faixa – a maioria - que não tem acesso a outros meio de
comunicação que não o rádio e a TV. Paradoxalmente, a imprensa graúda vive
reclamando da “péssima qualidade” da educação brasileira como se os meios de comunicação
de massa não tivessem nada a ver com o problema. Como os políticos se borram de
medo de exigir o cumprimento do artigo 221 da Constituição Federal, o rádio e a
TV correm de rédeas soltas sem prestar contas a ninguém. Só num cenário como
este, a ausência de um humorista da estatura de Chico Anísio nos programas de
humor pode ser entendida. Como diria Gonzaguinha, “E a plateia ainda aplaude/
ainda pede bis”. A burrice, acreditem, é contagiosa.