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Notícia

Alexandre Herculano
06/01/2011 00:10:36


M. Paulo Nunes

Sábado passado foi dia de festa em nossa Academia. Ao chegarmos ali para a sessão ordinária semanal, deparamo-nos com a presença contagiante de alunos e alunas da Escola Municipal Lídia Ribeiro, do novo município de Nazária, que após visitar a Casa e suas dependências, como a Biblioteca e o Auditório, fizeram também questão de participar da reunião acadêmica, em companhia de seus professores. Motivado por este fato inusitado, fiz ali uma breve palestra, de improviso, sobre Alexandre Herculano, cujo bicentenário de nascimento, em março deste ano, ocorreu-me de pronto à lembrança, conforme resumo a seguir.

Há poucos dias, o Instituto Federal de Ciência e Tecnologia, por iniciativa dos professores do Departamento de Língua Portuguesa, à frente o Prof. Hugo Lenes Menezes, realizou um seminário, em homenagem àquele escritor, dos maiores da Literatura Portuguesa e de seu tempo, contando ainda com a presença do ilustre mestre Paulo Franchetti, da Universidade de Campinas – S. P., de quem assistimos notável abordagem sobre o romance O Monge de Cister.

Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo nasceu em Lisboa, em 28.03.1810 e faleceu em Val-de-Lobos (Santarém) em 13.05.1877.

Renovador dos estudos históricos em Portugual, distinguiu-se, no gênero, com a sua obra fundamental História de Portugal, em quatro volumes, publicada de 1854 a 1853, que provocaria grande celeuma entre o clero português, pelo fato de confrontar alguns temas polêmicos consagrados pela historiografia oficial, como o daquele fato lendário, segundo o qual teria Cristo aparecido ao rei Afonso Henriques na famosa batalha de Ourique que irritaria o clero. Isto o levou a fazer sua defesa, com a energia que lhe era notória, em alguns opúsculos como Eu e o Clero, Solemnia Verba, e sobretudo um livro de vingança, Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal (1854 – 1859), contando aquele drama de horrores que decorreu da criação do sinistro tribunal na pátria de Camões.

O romance histórico seria iniciado em Portugal, no romantismo, por seu contemporâneo, Almeida Garrett, com O Arco de Santana, que igualmente renovaria a poesia e o teatro, com os poemas Camões e Dona Branca e as peças dramáticas Um Auto de Gil Vicente, Frei Luis de Sousa e O Alfageme de Santarém. Mas foi Herculano quem deu ao romance a dimensão maior com Eurico, o Presbítero, O Monge de Cister e O Bobo  e ainda as Lendas e Narrativas, um dos livros mais belos daquela literatura e que eu aconselharia aos leitores que o lessem, pelo menos uma vez, antes de morrer.

Não vamos comentá-los agora que o tempo não comporta. Diria apenas que Eurico, o Presbítero, tão bem analisado pelo ilustrado professor daquele Instituto, Hugo Lenes, que lhe destacou o influxo da paixão amorosa e impossível que domina seus dois protagonistas, Eurico, o Presbítero de Cartéia e Hermengarda. Quanto ao O Monge de Cister, assinalaria ainda, como contribuição à renovação do romance moderno, que entre nós tem início com Machado de Assis, o diálogo do narrador com o leitor ou a leitora, como faz o mestre de Memórias Póstumas de Brás Cubas, técnica com a qual se antecipa Herculano à criação do romance moderno, conforme salientou em sua fala erudita e instigante o Professor Paulo Franchetti.

Outro aspecto a destacar na personalidade de Herculano é o seu espírito público e seu compromisso com os ideais de liberdade, o que o levaria, primeiro, a exilar-se na França em razão de opor-se ao absolutismo de D. Miguel e a alistar-se, em 1832, nas hostes de D. Pedro IV (Dom Pedro I do Brasil), na campanha da reconquista do trono português usurpado por aquele rei, batendo-se em várias ações militares, notadamente no cerco do Porto, cuja biblioteca foi por ele organizada durante o cerco daquela cidade, e da qual se tornaria conservador. Nomeado, após a restauração do trono, na pessoa da Rainha D. Maria II, filha de D. Pedro, para a direção da Biblioteca da Ajuda, dali sairia por uma revolução palaciana, de caráter demagógico, cujos propósitos políticos de que discordara, vinham contrariar seus ideais de liberdade.

Sua obra de historiador se enriqueceria mais ainda como o aparecimento da coleção intitulada Portugaliae Monumenta Histórica, com a qual trouxe à luz documentos da maior importância para a história portuguesa.

Desgostoso com a vida pública, recolheu-se à sua quinta de Val-de-Lobos, praticando a agricultura até morrer, dez anos depois.

 

 




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